Cuidados alimentares durante a gestação e lactação
Para enjoos e afins
Na gravidez, os sentidos do paladar e do olfato mudam bastante. Podemos ficar mais sensível a odores em geral, o que acaba afetando nossa disposição para consumir alguns alimentos.
Para ajudar com a sensação desconfortável, que podemos chamar de náusea, enjoo, falta de vontade de comer, e com os vômitos, temos alguns recursos:
evite ficar muita horas sem comer, que piora essas sensações
pode ser que alimentos frios, ácidos/azedos, pouco doces caiam melhor
shot de água com bicarbonato, podendo colocar gotas de limão se desejar. Essa opção ajuda muito também quando há azia e por isso pode ser usado durante toda a gestação
água com limão espremido
bagos de cardamomo para chupar ao longo do dia - as bolinhas que estão dentro do bago são as que realmente fazem efeito e podem ser engolidas
chá de gengibre - ele frio talvez caia melhor: para cada 300 ml de água, use um pedaço do tamanho de uma moeda de 1 real
comer bolachinhas de arroz ou de milho ao acordar, ainda deitada/antes de levantar da cama, caso o enjoo seja matinal
Necessidade nutricionais aumentadas
A demanda de nutrientes como um todo aumenta nessa fase da vida. No entanto, alguns ganham destaque, o que pode levar à necessidade de obtê-los através de suplementos.
Na gestação, o olhar mais atento é para o ferro e proteínas. Na lactação, o cálcio tem uma relevância maior. A necessidade calórica aumenta tanto na gestação como na lactação e é bem importante escolher bem as fontes de carboidratos.
Ingestão de proteínas
A demanda de proteínas aumenta significativamente na gestação, especialmente a partir da metade dela. Para atendê-la, temos que aumentar a ingestão dos alimentos mais ricos, como as leguminosas, mesmo que o grupo das carnes faça parte da rotina. O fato é que o estômago tem cada vez menos espaço e talvez não seja possível comer um volume muito maior.
É aí que entram os suplementos de proteínas.
Confira algumas sugestões clicando aqui
Na lactação, a demanda já volta a ficar parecida à de mulheres não grávidas, ficando relativamente fácil atingir a necessidade diária através dos alimentos. Inclusive porque o apetite nessa fase aumenta e o volume de comida consumido acaba naturalmente sendo maior. Pensando nisso, é importante escolher bem o que irá compor cada refeição!
Qualidade alimentar
Muito cuidado com uma fala que nos visita nesta fase: “eu mereço”! Você merece sim, tudo de melhor, incluindo se alimentar bem, com comida gostosa e nutritiva. Você merece ter saúde e passar isso para seu bebê.
Como o paladar muito muito nesta fase, muita atenção aos doces! O metabolismo da glicose muda muito na gestação, deixando a mulher mais suscetível a desenvolver diabetes gestacional. Se o cérebro pedir doce em algum momento do dia, opte por consumir frutas mais doces, como manga, banana (a nanica é mais doce e se for cozida fica mais docinha ainda), maçã no forno ou na airfryer ou qualquer outra fruta do agrado. Frutas secas também podem ser bem-vindas (a tâmara é uma das mais doces).
Cuidado também com o consumo de farinhas refinadas, mesmo as sem glúten. Ao optar por pães, massas, biscoitos, bolos e afins, o corpo deixa de consumir outros alimentos mais nutritivos por falta de espaço no estômago.
Atenção também aos alimentos de origem animal, principalmente os laticínios (se eles fizerem parte da sua rotina). A gordura saturada, presente nesses alimentos, interfere de forma negativa na insulina, que é o hormônio que ajusta a glicose no sangue.
Alimentos ultraprocessados, como bolachas, salgadinhos, refrigerantes e afins, devem ser evitados, se possível excluídos. Além da gordura trans, excesso de sal, açúcar e carboidratos de baixa qualidade, eles contêm muitos aditivos e substâncias estranhas ao corpo que atrapalham as reações químicas que acontecem dentro de todas as células, interferindo negativamente nas mensagens trocadas ali dentro. A gestação é um momento de elevada flexibilidade do DNA. Por isso, fatores externos e estilo de vida, principalmente as escolhas alimentares, podem “ligar” ou “desligar” alguns genes. Como você e o bebê estão replicando muitas células, é bem importante garantir que tudo corra dentro do esperado, “ligando” o que é bem-vindo e “desligando” o que pode fazer algum mal.
Essa recomendação vale também para a fase da lactação, onde essas substâncias indesejadas podem chegar até o bebê pelo leite materno.
Uma boa alimentação nessas duas fases da vida é a base para a formação e composição de todas as células, tecido e órgãos do bebê, pois todos os nutrientes e a maioria das substâncias passam pela placenta e pelo leite materno.
Cálcio
É bem possível garantir a ingestão deste mineral através da alimentação. Mas não vale a pena aumentar a ingestão de laticínios e sim ajustar o consumo através das fontes vegetais, conforme abaixo.
O ideal é chegar o mais próximo (se possível, passar) de 1000 mg/dia, tanto na gestação como na lactação.
- leite vegetal enriquecido - se essa for uma opção para você, procure pelos que não têm açúcar, aditivos e que contenham entre 300 e 400 mg de cálcio em 200 ml.
Os sabores aveia, amêndoas e mixed nuts, da marca A Tal da Castanha, têm 400 mg em 200 ml.
Obs: os demais sabores dessa marca não são enriquecidos.
Naveia e Nude são também boas marcas, com rótulo bem limpo, mas têm um teor mais baixo de cálcio: 240 e 150 mg em 200 ml, respectivamente
Nature's Heart, Silk, Almond Breeze têm 400 mg por 200 ml - esses têm alguns aditivos naturais adicionados
A marca Natural One tem leite de aveia em embalagem de 2 litros que contém 350 mg em 200 ml
obs: algumas marcas têm a versão individual, de 200 ml. com exceção da Nude, todas contêm açúcar adicionado
- gergelim integral (com casca), que pode ser consumido na forma de semente triturada ou tahine - considere cerca de 120 mg de cálcio para cada colher de sopa
- folhas escuras - couve, agrião, rúcula e mostarda são as melhores (quando refogadas, têm menor volume e portanto dá para ingerir uma quantidade maior), além do brócolis e do quiabo.
referências: 1 folha média de couve crua tem perto de 25 mg de cálcio; 3 floretes médios de brócolis têm 40 mg de cálcio
- chia - cada colher de sopa tem cerca de 60 mg de cálcio
- tofu - marcas Ecobras e Samurai Tofu (que são orgânicas) e Agronippo são boas fontes. mas pode ser qualquer marca que seja coagulada com algum sal de cálcio, como sulfato de cálcio (confira na lista de ingredientes). Por ser versátil, pode ser consumido em diversas preparações (confira o arquivo de receitas) - em 100 mg desse tipo de tofu temos por volta de 200 mg de cálcio
A suplementação de cálcio vai depender do quanto esse mineral está sendo obtido através dos alimentos. Em casos de risco de pré-eclâmpsia, a suplementação é obrigatória, independente da boa ingestão alimentar.
IMPORTANTE: suplemento de cálcio nunca deve ser tomado no almoço ou no jantar e nem junto com suplemento que contenha ferro na composição
Ferro
É um mineral essencial para a formação do sangue e para produção de energia dentro das células. Considerando que o volume de sangue pode aumentar em até 50% e que a replicação celular, tanto materna como fetal, é altíssima durante toda a gestação, a suplementação é mandatória. Sem ela, existe um alto risco de carência de ferro e de anemia. Há casos onde é necessário fazer a infusão de ferro diretamente na veia.
O suplemento precisa ser de ferro quelado, bisglicinato ou polimaltosado. O sulfato ferroso não é uma boa opção.
Os suplementos mais usados contêm 100 mg de ferro elementar por comprimido. Há várias marcas no mercado que têm esse teor, como Myrafer, Dexfer, Ultrafer, Endofer, Noripurum, Neutrofer 500 (esse tem, lactose na composição)
Em alguns casos, a suplementação de ferro precisa ser feita por via endovenosa. Nessas situações, o suplemento em comprimidos deve ser interrompido por 7 dias depois que a infusão foi feita.
IMPORTANTE: suplemento de ferro (comprido ou gota) nunca deve ser tomado junto com suplemento de cálcio e nem refeições onde que contenham laticínios e leite vegetal enriquecido com cálcio
DHA (forma ativa do ômega 3)
A Febrasgo recomenda suplementação com DHA obtido de algas a todas as gestantes, incluindo as onívoras. A dose indicada é de 200 mg/dia. Essa suplementação será extendida até o momento da introdução alimentar, quando o bebê vai iniciar o consumo das fontes de ômega 3.
A chia e a linhaça, fontes naturais de ômega 3, podem ser mantidas tranquilamente na rotina alimentar. A linhaça precisa ser triturada. A chia pode ser triturada ou hidratada. Lembrando que a chia tem a conveniência de ser também uma boa fonte de cálcio
Há muitas marcas de DHA a base de algas no mercado, tanto em cápsulas como na forma líquida. Muitos fabricantes colocam nas suas embalagens a indicação de consumo de 2 cápsulas/dia, somando cerca de 500 mg/día. Mas a indicação é de 200 mg/dia (apenas 1 cápsula/dia), salvo exceções.
As dosagens por cápsula vão variar um pouco conforme o fabricante: entre 215 a 250 mg/cápsula. Essa variação é pequena e por isso a escolha da marca fica pela conveniência.
Algumas marcas confiáveis:
Cápsulas: Ocean Drop, Puravida, Nutrify, Ah Natu, Vitafor (confira que seja DHA de alga)
Líquida: True Source (cada 17 gotas ofertam 204 mg), DHAlga Myralis (200 mg em 2 ml)
Durante o parto
Vamos imaginar o momento do parto como um dia intenso de musculação, onde vários grupos musculares serão recrutados. Para funcionarem bem, os músculos precisam de combustível e a forma mais fácil de encher o tanque é consumindo carboidratos. Por isso, foque em alimentos como frutas, arroz/feijão, batata, sucos com açaí e pães em geral.
Evite gorduras, como castanhas, abacate, coco e proteínas animais (se elas fizerem parte do seu hábito). Isso porque as gorduras retardam o esvaziamento do estômago, o que não é interessante neste momento


