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Foto do escritorAna Ceregatti (Escola de Nutrição)

Por que escolhemos comer assim?

Atualizado: 11 de mai. de 2023

O ato de comer está cada vez mais complexo. Forças poderosas do mercado de alimentos estão complicando algo tão simples como preparar alimentos de verdade, sob a alegação de insuficiência dos mesmos frente às nossas necessidades. Vamos refletir um pouco sobre como lidar com esse cenário e garantir saúde física e, porque não, financeira.


Alimentação e nutrição deveriam ser palavras sinônimas. Já faz um tempo que estão deixando de ser. Posso ingerir nutrientes sem necessariamente comer um alimento. E posso me alimentar e não me nutrir.


Estamos problematizando a comida de verdade, colocando o nutriente antes do alimento e assim medicalizando o que mastigamos. Não comemos cúrcuma; comemos curcumina. Não comemos linhaça, mas ômega 3. Não comemos aveia e sim betaglucana.


O mercado enxergou isso e cada dia mais oferece algo embalado, que foi enriquecido com esse e aquele nutriente. Pensando nos alimentos acima, em vez de colocar a cúrcuma fresca ou em pó na comida, tomamos uma cápsula. No lugar de incluir semente ou óleo de linhaça sobre o arroz com feijão, tomamos outra cápsula. E misturamos um pó que vem em um sachê na água em substituição aos flocos de aveia sobre uma fruta. Nesse cenário, desconsidera-se totalmente a interação que os vários nutrientes têm dentro do alimento que o torna tão especial. Sem contar o tanto de lixo que geramos com caixinhas, sacolinhas, pacotinhos, saquinhos e outros inhas e inhos. O quintal do planeta também é o da casa de cada um de nós.


Importante lembrar que o alimento é o que colocamos na boca, que tem cor, textura, sabor, cheiro. É por ele que nos encantamos. É com ele que temos relações afetivas. Já o nutriente é o elemento que será absorvido pelo corpo, que fará parte das nossas células e tecidos. Não há emoção em comer fibras solúveis com polifenois. Mas há uma mistura de sensações num delicioso mingau de aveia com chocolate!


Detalhe: tudo isso em um momento onde as pessoas têm medo de carboidrato e idolatram proteínas. Arroz e feijão, nem pensar! Melhor sacudir uma coqueteleira com água e proteína em pó. Não, né?


Quando comemos o que não devemos


O brasileiro, de forma geral, come mal. Faltam alimentos integrais e frescos, como verduras, frutas e legumes. Há excesso de sal, gordura e muitos alimentos ultraprocessados.


Até pouquíssimo tempo atrás, se um vegano quisesse comer mal, teria que comer arroz branco, pães refinados, margarina, batata frita e leite de soja. Hoje, se um vegano quiser comer mal, ele tem uma seção inteira do supermercado para escolher barrinhas, lasanha, coxinha, sorvete, hambúrguer entre outros produtos comestíveis que às vezes nem dá para chamar de alimento.


Essas escolhas são feitas, geralmente, em nome da praticidade e do cansaço (e até preguiça) gerados pela rotina do dia a dia e/ou do hábito alimentar adoecido da nossa cultura. Sim, temos uma população que adoece porque come mal: obesidade, infarto, derrame, diabetes, colesterol elevado, pressão alta, câncer são exemplos de doenças que, na sua grande maioria, são decorrentes de erros alimentares. Lamentavelmente. E não é só no nosso país. Mas é aqui que vivemos e é das nossas escolhas que temos que falar.


Lugar de comprar comida é na feira, no sacolão, nas hortas, nos mercados municipais. Há pouca coisa para ser comprada em supermercado, onde felizmente há uma seção de hortifruti.


A comida a ser comprada tem que ter a chance de estragar, porque está viva. E essa comida, em geral, não vem em pacotinhos e sacolinhas, o que minimiza a questão do descarte de embalagens. Além disso, ela é muito mais barata do que as cápsulas, pós e sachês. Nesse quesito, o bolso agradece.


Comida de verdade não compromete nossa saúde. Muito pelo contrário. Na dúvida, vá de frutas, verduras, legumes, cereais, castanhas e leguminosas. Não tem como errar.


“que seu remédio seja seu alimento e que seu alimento seja seu remédio” (Hipócrates)
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