Se a alimentação sem produtos de origem animal é polêmica para adultos, imagine para crianças! Não é incomum ouvirmos que haverá falta de proteína, que o crescimento será prejudicado, que a criança vai ficar anêmica, que o cérebro não vai se desenvolver direito, comprometendo o aprendizado e as funções motoras, etc., etc.,etc..
O que é mito – ou verdade – nisso tudo?
Antes de tudo, é importante dizer que as informações publicadas nas revistas científicas mostram que crianças vegetarianas e onívoras, que são alimentadas adequadamente, se desenvolvem da mesma forma. Há uma gama de estudos que comprovam isso.
No entanto, temos que considerar que existem vários interesses, que vão de culturais a econômicos, que jogam a favor ou contra a ausência de proteínas animais na vida dos pequenos. A população brasileira é predominantemente onívora. Nosso país detém o maior rebanho comercial do mundo. Adivinha onde haverá mais questionamento e implicância com a dieta vegetariana em crianças: aqui ou na Índia?
Além do leite materno
Até o sexto mês de vida, toda criança deve receber exclusivamente leite materno. Nem
água, nem chá. E, na impossibilidade do aleitamento materno acontecer, a fórmula infantil é a única opção. A partir daí, o leite materno não atende mais as necessidades dessa turminha e por isso é necessário iniciar a alimentação complementar, que será composta por uma variedade de alimentos encontrados no grupo dos cereais, das leguminosas, das hortaliças, das frutas e dos óleos. Essa estrutura vai seguir por toda a vida da criança, até a idade adulta, variando a proporção entre os grupos, conforme tabela abaixo.
Carnes (vaca, frango, porco, peixe), ovos e laticínios são opcionais
Como assim? Como esses alimentos são associados a boas fontes de proteínas, cálcio, vitamina B12, ferro e ômega 3, a ausência dos mesmos na dieta da criança pode gerar dúvidas sobre possíveis carências. Será?
Proteínas: a menor unidade de uma proteína chama aminoácido. Existem cerca de 20 aminoácidos na natureza, sendo que alguns são chamados de indispensáveis, pois o corpo não consegue fabricar e portanto precisam vir dos alimentos. Todos eles são encontrados facilmente nos vários grupos vegetais, especialmente nas leguminosas. Não há um sequer que seja exclusivo do reino animal.
Em pediatria, é bem sabido que, quando a criança recebe uma dieta equilibrada, que atenda suas necessidade energéticas, ela necessariamente estará recebendo toda a proteína necessária ao seu desenvolvimento. Assim, criança que recebe comida de verdade não tem falta de proteína.
Cálcio: o leite materno é excelente fonte desse mineral, assim como as fórmulas infantis, que são de consumo obrigatório até os 12 meses de vida na ausência do leite da mãe. A partir daí, ela pode continuar a ser amamentada, receber a fórmula infantil ou substituir essa última por uma bebida vegetal enriquecida com cálcio, cujo teor é semelhante ao leite de vaca: 200 ml de bebida vegetal (preferencialmente à base de arroz ou de aveia orgânicos) contém cerca de 240 mg de cálcio. Nas 3 opções, a criança receberá quantidades adequadas desse mineral.
O cálcio também é obtido dos vegetais verde-escuro, como a couve, rúcula, agrião, brócolis, e do gergelim, que deve preferencialmente ser incluído na alimentação da criança depois do seu primeiro aniversário.
O cálcio para ser bem absorvido precisa da vitamina D, cuja suplementação é recomendada a partir do nascimento, independente da opção alimentar futura da criança.
Vitamina B12: se engana quem acha que carência da vitamina B12 aparece somente em vegetarianos. Bebês onívoros podem também apresentar deficiência se a mãe tiver níveis sanguíneos baixos durante a gestação e a lactação. Assim, a recomendação é garantir a suplementação materna desse vitamina durante toda a gravidez e período de aleitamento. A partir da introdução alimentar, o nutricionista ou pediatra deve avaliar a ingestão da B12 através da alimentação e definir sobre a suplementação.
Ferro: um mineral extremamente importante para produção de energia e distribuição do oxigênio, o ferro é sempre associado com a carne. No entanto, ele pode ser facilmente obtido das leguminosas e das folhas escuras. Para bebês que recebem leite materno, a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda a suplementação a partir do terceiro mês de vida, independente se forem vegetarianos ou onívoros. O cuidado com esse mineral se estende durante toda a fase pré-escolar pela alta demanda metabólica. De novo, não importa se a criança come (ou não) carnes, ovos e laticínios.
Ômega 3: uma gordura importantíssima para o desenvolvimento cognitivo da criança, a suplementação começa já durante a gestação e é garantida através do leite materno ou da fórmula infantil até o 6º mês de vida. A partir daí, esse nutriente será obtido através do consumo diário de óleo de linhaça, inclusive por bebês onívoros, que, na grande maioria das vezes, não consomem peixes diariamente.
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